22.2.03

Coluna de Sebastião Nery, hoje, na Tribuna da Imprensa:

Direito adquirido só o da bandidagem

No "Radar" da "Veja", Lauro Jardim conta esta história:
"Renato Guerreiro deixou a presidência da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) em março passado para abrir, quatro meses depois, uma consultoria. Dizia que queria ganhar, enfim, dinheiro - coisa que o salário do serviço público definitivamente não permite.

Menos de um ano depois, está dando consultoria às principais empresas de telefonia fixa e móvel do País. E a grana pintou: só da Telemar, Brasil Telecom e Embratel são quase 200 mil reais por mês.

Um contrato com a Telefônica lhe rendia outros 50 mil reais, mas acabou em dezembro. Isso sem contar com a grana dos celulares. Como presidente da Anatel, Guerreiro tinha um contracheque de 8.200 por mês".

Renato Guerreiro, vocês se lembram, é aquele generoso e solidário senhor que, nomeado por Fernando Henrique presidente da Anatel, contratou, por um valor acima do salário dele, a "consultoria" (sic) de uma bela e jovem argentina que tinha sido aluna e muy amiga de Fernando Henrique no Chile.

O genro
A "Tribuna da Imprensa" de ontem contou esta história (Agência Estado):
"O ex-diretor-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo), agora consultor (sic), David Zylbersztajn, se diz estarrecido com o grau de desconhecimento apresentado pelo presidente Lula e parlamentares da bancada governista sobre a atuação das agências reguladoras.

Zylbersztajn lembra que as agências foram criadas com base em uma estratégia de governo (sic). Não há nada de errado nisso, desde que respeitem os contratos já assinados (sic). Nenhuma das agências tem livre arbítrio para definir tarifas ou reajustes. Não há nenhuma surpresa: são cláusulas técnicas estabelecidas nos contratos (sic).

A não ser que se queira romper contratos. O mais importante seria que o governo adotasse medidas de fortalecimento (sic) das agências. Alterar o modelo atual envolve renegociação de contratos (sic), porque esses acordos não podem ser rompidos unilateralmente".

David Zylbersztajn, vocês se lembram, é aquele venturoso e defenestrado senhor que foi nomeado presidente da ANP porque era genro de Fernando Henrique e foi demitido da ANP (coitadinho, quanta ingratidão do Golias!) quando deixou de ser genro de Fernando Henrique.

Leões-de-chácara
Eles todos viram "consultores". Mailson da Nóbrega é o grande patrono. Trabalham no serviço público, preparam, forjam, assinam "contratos" bilionários, saem de lá e vão ser leões-de-chácara dos "contratos" que pariram.

Ministro da Fazenda (que levou a inflação a 82,3% ao mês), Mailson "tomou" (é a palavra mais gentil que encontrei), em 88, US$ 20 bilhões da agricultura brasileira, assegurados em lei para financiamento de safras, e doou aos banqueiros. Quando saiu do ministério, foi ser (é até hoje) o principal "consultor" dos banqueiros, o grande leão-de-chácara da "honra dos contratos".

Quando os servidores públicos aposentados (não sou servidor público, aos 70 anos nunca me aposentei de nada) falam em "direito adquirido", os leões-de-chácara dos banqueiros e empresas privadas de serviço público gritam que eles não têm direito adquirido. O único direito adquirido é o dos juros dos banqueiros e o dos "contratos" assinados pelos futuros "consultores".
Direito adquirido só no bordel da bandidagem.

A ciranda macabra
Ainda esta semana o País, estarrecido, ficou sabendo de mais um golpe nos "contratos" assinados pelas agências reguladoras (sic): elas embutem no aumento das tarifas o "risco Brasil", as notas que a bandidagem nos dá lá fora.

É uma ciranda macabra. As "agências de risco" que dão "notas" à economia brasileira pertencem aos bancos estrangeiros. Elas sobem o "risco Brasil", o dólar sobe com ele, dando lucros aos bancos, a inflação cresce e o governo aumenta os juros pagos aos bancos, donos das "agências de risco".

E, aqui dentro, as "agências reguladoras" elevam as tarifas com base na subida do dólar, dos juros e do "risco Brasil", fazendo a inflação subir mais. O País e o governo ficam reféns da bandidagem defendida pelos leões-de-chácara.

A arapuca de FHC
Lula, se dormia, acordou a tempo. Sua denúncia é irrespondível:

1 - "Criaram um poder paralelo no País. O Brasil está terceirizado pelas agências reguladoras. O poder político foi terceirizado. As agências aumentam gasolina, luz, álcool e o presidente fica sabendo no dia seguinte, nos jornais".

2 - "Dolarizaram o Brasil. Álcool, gasolina e aço aumentam por causa do dólar. Como explicar o aumento de 47% do aço, se a matéria-prima é toda nacional? Quero uma parceria com o Congresso para rever as agências".

3 - "Assumir a Presidência foi como casar com uma viúva. Cada dia aparece um filho novo, um cunhado". A viúva tem nome: Fernando Henrique.

Durante anos avisei aqui. Fernando Henrique estava preparando, no Banco Central e nas agências, uma arapuca para o sucessor. E ela apareceu.






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