16.10.02

Vocês se lembrar daquela carta apócrifa em que um pai pedia pro filho parar de estudar por que o Lula poderia ser presidente? Pois bem, recebi um e-mail onde o filho dá a resposta:

Pai,

Nem pensar em parar meu inglês, minha computação e minha escola boa.  Eu adoro, me sinto um privilegiado e agradeço a Deus todos os dias por ter acesso a todas essas coisas em um país onde 70% da população não tem acesso a nada. Só sinto que você não tenha vivido com a mesma alegria que eu todos os estudos que fez na sua vida....é tão bom poder ampliar nossa visão de mundo de um jeito mais confortável. E graças a essa formação humanista de alto nível que tivemos podemos discutir o mundo à nossa volta sem simplificá-lo de forma grosseira. Que bom.

Não posso ser como o nosso futuro presidente - que você, parece, já elegeu e já chama "seu presidente"... Ele teve que construir sua formação de uma forma bem menos confortável do que a nossa, numa escola da vida bem mais madrasta, lutando para ter espaço não só para si mesmo, mas para todos os seus iguais, ou seja... aqueles 70%.

E como teve liderança, e como trabalhou duro, fundando o partido mais ético e coerente do cenário nacional (embora imperfeito e sempre sujeito a revisões), foi escolhido por milhões de brasileiros para representá-los. Para isso, teve que parar seu trabalho de torneiro mecânico e continuar seu trabalho duro de formação política, cercado das melhores cabeças da intelectualidade nacional, viajando, lendo e se informando, sempre aberto a discutir, sempre forte nos seus ideais de justiça social.

E claro, recebe do partido que o escolheu para esse papel tão importante recursos para viver bem, vestir-se bem e preparar-se. Não queremos um estadista mal vestido. A imagem não é tudo, mas também é importante, não sejamos ingênuos. Mas esse homem, no lugar de se acomodar, como muitos fizeram, continua discutindo, brigando e lutando por seu ideais de justiça social... porque ele não teve a oportunidade de se formar como eu e você tivemos, e então sabe por experiência própria o quanto seu caminho foi difícil. Então, não posso ser como ele, porque meu começo foi diferente.

Mas posso ser parecido com ele, sim, e ao me profissionalizar, vincular-me ao sindicato da minha  área de atuação, e lutar democraticamente por meus direitos e por uma sociedade mais justa.  Posso exercer minha cidadania lutando para que a maioria da população tenha um ensino de qualidade, e acesso a computadores e inglês como eu tenho tido.

Pai, o Lula não continuou os estudos na escola regular porque não pôde. O Collor, por outro lado,  falava 9 línguas, lembra? O problema é que só falava mentiras em todas elas, e foi posto pra fora em uma língua só: o português do povo brasileiro na rua, bravo por ter sido enganado.

Em todos os países do primeiro mundo, as facções políticas se alternam no poder, e sabe o que acontece? Eles amadurecem politicamente e ficam cada vez melhores. E nós? Vamos ficar pra sempre atrelados a esse coronelismo provinciano? Não vamos crescer? Temos medo do quê, de ser felizes? Conserve o seu dedo, meu pai, para apertar os botões certos na urna eletrônica e votar de forma amadurecida. Seja qual for sua escolha, que ela não seja resultado do preconceito e do pensamento simplista de quem tem medo de ser feliz.

Com carinho,

Seu filho





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