22.9.02

"Por mais que se diga que o tempo tudo é capaz de cicatrizar, o 'fantasma de 50' ainda parece perseguir o sono intranqüilo dos brasileiros. Livros, entrevistas, novas explicações. Muda o enfoque mas não muda a angústia de uma bola rente à trave, um jogo perdido, uma Copa perdida. Mais ainda, 50 representa a esperança perdida ao longo de tantos desacertos da política nacional. Do naufrágio do modelo populista às frustrações do modelo neoliberal, passando pelos anos de chumbo da ditadura militar, foram muitos os brasileiros a acreditar que o país tinha chance de tornar-se a potência do futuro. E todos estes projetos, à sua maneira tão otimistas, ficaram pela metade, como ficou o título perdido naquela tarde no Maracanã. Para os brasileiros, lembrar 50 é lembrar um sonho inacabado. Cada vez que o Brasil traz à tona o gol de Gigghia, a memória coletiva se ressente também do país que não foi construído, das oportunidades que foram perdidas, das esperanças que ficaram no meio do caminho. Talvez a lembrança do chute do ponta uruguaio ainda faça muitos brasileiros admitirem, inconscientemente, que não foi o futebol nacional que fracassou. Afinal, o país fechou o século como o único tetracampeão do mundo, detentor do melhor jogador de todos os tempos e de um estilo de jogo mundialmente respeitado. Talvez o mais doloroso da lembrança de 50 seja mesmo reconhecer que o futebol brasileiro deu certo, mas o Brasil, este sim, enquanto projeto de nação, foi o grande derrotado."
Gilberto Agostino
Vencer ou morrer - Futebol, geopolítica e identidade nacional





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