1.9.02

Gosto de ler o Elio Gaspari no Globo. Só que a coluna dele deste domingo tem um trecho tão sem-vergonha que não há um só parágrafo que não possa ser rebatido. Em itálico, as minhas considerações...

Os plebiscitos da CNBB

Não faz o seu estilo, mas o episcopado brasileiro bem que poderia dizer até que ponto ele está representado nas manifestações plebiscitárias que se organizam em nome da CNBB. Trata-se de rematado ilusionismo, fronteiriço da má-fé.

O que é "rematado ilusionismo ou má-fé"? A representação dos bispos ou o plebiscito? Realmente, o termo "plebiscito" é um tanto quanto mal empregado, já que não tem um valor oficial. Mas é melhor do que "pesquisa de opinião"...

Há poucos anos, em nome dos bispos, organizou-se um plebiscito para saber o que os brasileiros achavam do resgate da dívida externa. Votaram seis milhões de pessoas. Agora, o Grito dos Excluídos está organizando outro plebiscito, sobre a Alca. Mandaram imprimir 20 milhões de cédulas. Estimando-se que todas sejam usadas, a turma do grito já decidiu excluir algo como cem milhões de almas. Mesmo que fosse para fingir, o teatrinho custaria um desperdício de pelo menos 80 milhões de cédulas e os organizadores do evento não são de queimar dinheiro.

E as pesquisas eleitorais? Quantas pessoas são realmente entrevistadas? Mesmo que as pessoas respondam aos entrevistadores dos IBOPES da vida, com certeza o universo é muito, mas muito menor do que o número de cidadãos consultados num plebiscito da CNBB. Com uma vantagem: são vinte milhões que responderiam a um questionário que não foi encomendado por nenhuma organização cujo canal a cabo precisa da vitória desesperada do candidato do Governo ou de uma Confederação de Transportes que não merece a menor credibilidade...

Resta saber se há no Brasil um só bispo capaz de sustentar que é superior a um milhão o número de pessoas capazes de dizer, com um grau razoável de conhecimento, que sabe o que é a Alca.

Ninguém sabe o que é PIB, ninguém sabe o que são juros ativos, ninguém sabe o que é dívida pública, ninguém sabe pra que serve a Bolsa de Valores no Brasil (que se fosse fechada durante 50 anos, 99% da população brasileira não sentiria a menor falta) e, no entanto, isso é notícia todos os dias nos jornais. Os jornais são feitos pra quem? Pra meia dúzia? Eles não são formadores de opinião? Opinão de quem então?

Esses plebiscitos são manifestações meramente propagandísticas e patrulheiras. Destinam-se a perguntar a quem não quer pagar a dívida externa nem negociar a Alca o que acham do pagamento da dívida externa e da negociação da Alca. Seria muito mais instrutivo se o episcopado organizasse um outro tipo de plebiscito, sem dúvida mais representativo. Poderiam consultar todos os padres. Se dá muito trabalho, poderiam submeter os bispos ao mesmo sim ou não que pretendem oferecer aos fiéis. Se também dá trabalho, poderiam ouvir os sete cardeais. Depois, conversariam sobre uma maneira de ouvir o rebanho.

Má fé do autor agora. O plebiscito era para se fazer uma AUDITORIA na dívida externa. Exatamente para saber o quanto ainda estamos devendo. Se Elio Gaspari pedir um financiamento para comprar uma casa própria, certamente vai querer saber quanto falta para pagar. Não é? Era exatamente isso o que o plebiscito defendia: se deveríamos fazer ou não as "contas" e ver o quanto falta pagar. Tem alguma coisa demais nisso? Tem, para esta imprensa troglodita comprometida com o Planalto até o pescoço (e da qual acredito que Gaspari não faz parte, apesar de sua grande amizade com Golbery do Couto e Silva em tempos não muito cristalinos no Brasil), tem! É "calote". Como calote? Foi por deixar de pensar assim que o governo do Peru conseguiu reaver 700 milhões de dólares que pagara indevidamente aos bancos suíços a título de "juros da dívida". E a Suíça TEVE QUE DEVOLVER O DINHEIRO, com a mesma pressa com que exige o pagamento... Por que não fazer as contas? Se bobear, nós temos é grana PRA RECEBER!!! GRANA QUE FOI PAGA A MAIS!!!

É isso...

Fiquei puto mesmo...





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