13.8.02

97 LIVROS QUE EU NÃO POSSO DEIXAR DE LER ANTES DE PAGAR O ÓBOLO PARA CARONTE
Capítulo 47


VIAGENS DE GULLIVER

Jonathan Swift


"Não se deixe enganar pela ancianidade de uma obra de peso para a literatura universal que são as "Viagens de Gulliver". É um livro de peso. Ao lê-lo, tem-se a idéia de que alguma coisa do passado político dos países imaginários ali descritos - Lilipute e Blefusco, Brobdingnag e Laputa, entre tantos outros, falam para um país imaginário do futuro. Swift conseguiu reunir contrários como Lilipute, uma terra formada por milhares de habitantes miniaturas e Brobdingnag, uma terra de homens gigantes, para nos passar com incrível sagacidade e ironia que o que é tratado com grandiosidade numa terra, ou tempo, o é como desprezível, abominável e aborto da natureza em outro. O personagem principal nos guia numa viagem sem diálogos entre um reino onde o protagonista é tratado com as deferências devidas a um chefe de estado e outro onde ele, num revés de sorte, é tido como um brinquedo. Seu anfitrião tem até um bom chiste para criatura tão desprezível: que é bem pouca coisa a natureza humana se ela pode ser arremedada por um serzinho tão desprezível. A sátira política de Swift é aguda quando lhe convém à boca de seu personagem contar vantagem sobre os progressos políticos e sociais de sua terra. Mas uma visão maior bastará para captar-lhe as contradições, para perceber que ele se aventura no descrever uma terra de sonhos, perfeita e inexistente, e assim ele tem seu ego tão reduzido como seu tamanho. O prazer de ler "As Viagens" vem do fato de todas as ilusões decantadas pelo seu protagonista poderem muito bem ser aplicadas ao universo contemporâneo de nossos Estados e em especial do momento político pelo qual passa nosso país. Só que, ao contrário de Gulliver, não sabemos qual será o final dessa viagem."





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