22.3.02

Quer dizer então que foi o acaso que me fez existir? Que não só me fez existir como me puniu com a possibilidade de morte? Que me puniu com o medo da morte? Então por que EU existo? Se não há um sentido profundo em nada, o que é que eu estou fazendo aqui? Melhor não ter nascido. Melhor ter ficado no vácuo, flutuando pelo nada. Assim, não haveria parentes indo embora, não haveria amigos indo embora, não haveria doenças, não haveria a tristeza da perda.

Quer dizer então que as paisagens que vemos quando viajamos, aquelas de uma beleza sem par, que mostram a força e a pujança da natureza são apenas prêmios de consolação por existirmos? Quer dizer que morreu, acabou? Mas o que acabou? O que é o ser? O que é o não-ser? Os céticos, tão preocupados em destruir as religiões, em derrubar os deuses, em aniquilar a fé, não perceberam ainda que são tão fanáticos quanto os aiatolás, os papas da Inquisição e evangélicos da Universal. Os céticos, em sua cegueira racional, em seu ateísmo hidrófobo ainda não perceberam que transformaram o Acaso num novo deus. Não perceberam que transformaram a Ciência numa deusa, diante da qual também ajoelham e rezam.

Tu és nada e ao nada voltarás. Um novo versículo para os apóstolos da Racionalidade. Prefiro acreditar que sou mais e vou um pouco além disso. Não por ser um consolo bobo de "vida após a morte" ou por representar a esperança de reencontrar "os que já se foram". Mas por acreditar que por trás dessas minhas reações físicas e químicas exista uma essência que baila pelo Universo. E que de alguma forma me fez chegar até aqui. Vivo, consciente, racional. Que essência é essa? Que "mistério" é esse? Não sei, talvez nem queira saber, mas não teria raiva de quem soubesse e compartilhasse deste "segredo" comigo.





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