3.4.03

Veríssimo hoje no Globo. Sempre ele...

Represálias

Não concordo que haja o risco de represália dos Estados Unidos se o governo brasileiro insistir numa posição crítica em relação à invasão do Iraque, como andam dizendo. E se houver represália, o que pode nos acontecer? Um bombardeio de Brasília, desde que não seja entre terças e quintas, não afetará o funcionamento do Congresso, que não estará lá. O Executivo e o Judiciário também correm perigo mínimo: pouca gente sabe que o Niemeyer construiu boa parte dos edifícios de Brasília embaixo da terra já prevendo um eventual ataque americano. São poucas as probabilidades de o presidente ou sua família serem atingidos, a não ser que a Michelle fuja do abrigo e o Lula corra atrás dela. No Judiciário, os processos empilhados esperando julgamento agiriam como sacos de areia, dando proteção adicional aos juízes. E há sempre a esperança de os americanos bombardearem Buenos Aires.

Se o Donald Rumsfeld não decidir que as tropas terrestres devem invadir o Brasil pela Amazônia, onde o risco de tempestades de areia é mínimo, elas deverão desembarcar na Bahia, onde terão que avançar lentamente, respeitando as características locais, ou no Rio, onde enfrentarão o grosso do armamento pesado do nosso exército que, como se sabe, está todo na mão dos traficantes, sendo improvável que consigam passar do Complexo do Alemão. Se desembarcarem em Santos para atacar São Paulo, terão que enfrentar o engarrafamento na Bandeirantes. E apesar da informação que a CIA tem de descontentamento interno e oposição feroz ao regime instaurado no país, os americanos se iludem se pensam que poderão contar com adesão da Heloisa Helena e do Babá. E há o perigo de armadilhas. Avançando pela Barra da Tijuca, onde todos os letreiros e anúncios são em inglês, os soldados invasores podem ter a enganosa impressão de que estão em casa ou no mínimo que houve uma rendição antes mesmo do ataque, baixarem a sua guarda e serem emboscados pelo Batalhão de Elite Vera Loyola, furiosamente leal a Lula.

E se, mesmo assim, a invasão tiver sucesso e o regime for derrubado, devemos pensar no lado positivo da coisa: o país será totalmente reconstruído por empresas ligadas à Casa Branca, e quem pagará será o Tesouro americano. Finalmente teremos saneamento básico decente, etc. sem falar em marines com visão noturna patrulhando as ruas contra o crime. E não é demais lembrar que foi o general MacArthur, chefe das forças de ocupação, que impôs a reforma agrária no Japão com a decisão que tem faltado aos nossos governantes.

Por enquanto, no entanto, os americanos se limitam a nos atacar com agências internacionais de fragmentação sob o seu controle que subjugam nossa economia e tratados multinacionais teleguiados que eternizam nossa dependência, em represália a... Em represália a o que mesmo?





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